A edição de março de 2012 da
Revista Caros Amigos traz uma matéria crítica sobre as expectativas quanto à
Rio +20. Segundo a reportagem, “a questão ambiental, apesar de urgente, ainda
está permeada de hipocrisia e discursos vagos”. Com base nessa idéia, a revista
discute as dificuldades para a viabilização de um discurso verde, que corre o
risco de ficar mais uma vez apenas na retórica.
No documento Zero Draft
(preparatório para a Conferência) surge o conceito de economia
verde que se fundamenta na idéia de que o
investimento em tecnologia reduzirá a emissão de gases do efeito estufa. Nesse
sentido, os estudiosos do meio ambiente observam que isso gera dependência da
iniciativa privada que seria a responsável pela criação de mecanismos que
promovam indústrias mais verdes. Além desse problema, outro fator agravante é o
fato de que a transição da economia atual para a verde está baseada na
atribuição de um preço aos recursos naturais: água, ar, terra, biodiversidade,
tudo vai receber um preço!
Uma contribuição interessante da
revista está no balanço sobre as iniciativas brasileiras em ações ambientais.
Iara Pietricovsky, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) mostra a
relação ambígua que o governo brasileiro tem com o tema:
“Por
um lado, o Brasil acena com o corte de emissões na COP-15 em Copenhagen, faz um
discurso emocionante para o mundo e o mundo espera dele protagonismo nessa
questão, mas o Brasil interno não tem nada disso. A bancada ruralista no
Congresso começou a abrir aquilo que nós, por tantas décadas, conseguimos
formatar como princípios e parâmetros legais de preservação”.
Alguns exemplos brasileiros “nada
verdes” são: o novo Código Florestal, a Hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu,
a Usina Nuclear de Angra 3, a transposição do Rio São Francisco e a liberação
dos transgênicos. Basta dizer que o agronegócio constitui a principal atividade
da economia brasileira e emprega muito agrotóxico, contaminando água, solo,
trabalhador e os alimentos consumidos.
A reportagem destaca que duas práticas
defendidas pelo governo como ‘verdes’ são:
·
Produção de energia a partir de usinas
hidrelétricas
·
Biocombustíveis como opção à gasolina
O problema é que por um lado, a
produção de etanol se baseia no uso de monocultura, trabalho escravo e
contaminação do solo e da água, além de problemas de doenças respiratórias
causadas pelo excesso de fuligem. Por outro lado, a construção de grandes
hidrelétricas favorece as grandes empreiteiras, impactando enormemente o meio
ambiente e social. Em contrapartida, organizações como o Greenpeace defendem a
energia solar e eólica como soluções viáveis, inclusive para o Brasil.
Outro aspecto que complica mais ainda
o debate Ambiental é o crescimento de produtos que anunciam em suas embalagens
que são “verdes”, porém não é bem isso o que acontece. Em alguns casos,
investem bem menos do que o fazem em práticas insustentáveis, que vão contra os
direitos humanos e os recursos naturais do planeta. Essa prática do falso apelo
verde é denominada greenwashing (lavagem verde). Exemplos são: “o emprego de
palavras vagas, como natural, para passar uma falsa idéia de sustentabilidade
ou estampar embalagens com falsos certificados ambientais”. (p.19)
O grande mérito dessa reportagem é
mostrar a hipocrisia dos discursos e propostas que aparentemente prometem
apoiar e defender as questões ambientais, mas que na prática advogam ainda a
favor de uma concepção de natureza como fonte de exploração e geração de
dinheiro. Mostra a posição de estudiosos e ativistas na área ambiental que
temem que o Rio de Janeiro seja palco de mais um teatro, onde líderes de
Estados e corporações se eximam de suas responsabilidades.
Apesar de tudo, a sociedade está mais
ciente de que os recursos naturais não são eternos e algumas experiências
mostram que é possível a construção de práticas mais efetivas na preservação do
meio ambiente.
Fonte: MENGARDO, Bárbara. Conferência
Mundial - Rio +20 e a Hipocrisia Ambiental. Caros
Amigos. Ano XV, nº180, 2012. P.16-19.